domingo, novembro 30, 2008

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Não sabia o que o tinha feito pensar que a porta estaria aberta. Um daqueles palpites utópicos da juventude, em que raramente o difícil o parece. Mas o falhanço é encarado sem drama, com um mero encolher de ombros.
Ele não desistia facilmente. Ele ia deixar de ser um puto, não ia desistir à primeira porta fechada!
Com o cuidado de não fazer barulho procurou a porta das traseiras. Circundou a casa, aquela casa, e em cada janela imaginava o vulto do "Homem do Saco" a observá-lo, a criança dentro de si a lutar com o adulto que ele se esforçava para ser. Mas a experiência não se origina do esforço.
Ele achou-se repentinamente num escuro ainda mais escuro, numa abóbada de sebe, mas ao mesmo tempo teve um vislumbre de uma porta antiga, que não parecia muito forte...
Então seria assim, o destino continuava a exigir mais dele, mostrava-lhe um propósito ao mesmo tempo que lhe levantava um novo obstáculo. Estava a tentar gozar com ele...
Não o conhecia. Ele não estava ali para recuar. Nem mil sebes, mil muralhas, o quarto mais escuro o impediriam de tentar até ao fim, repetia ele para si próprio, como injecção de coragem. O medo da vergonha consegue ser um grande estimulante...
O primeiro passo não foi o mais difícil. Há quem diga que o é sempre.
É falso, por vezes a dificuldade está em continuar e concluir o que começamos. Por muito difíceis que as coisas pareçam no seu início, costumam arranjar maneira de complicar quando nos convencemos que o pior já passou.
A cada passo os vultos que ele via ou imaginava ver não desapareciam, duplicavam. Cada passo era mais pesado que o anterior.
Mas ele continuou. Adiante!
A cada novo passo, a simples aceitação lhe inundava o pensamento.
Crescia enquanto se mentalizava:
Ninguém disse que ia ser fácil.

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