quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Às vezes...



Na sua fronte respirava-se o odor da solidão. Gotas de vontades distintas desciam as ravinas do seu rosto, regando os vales das suas rugar com uma vida de idade, lembrando recordações já esquecidas na sua própria memória.
Tudo o que os seus olhos viam era luz, em contraste com a sua alma. As ilusões que involuntariamente criava conheciam rival apenas na cruel realidade que assistia impávida e imutável à sua decadência.
Às vezes gostava de colocar questões a si próprio, desafios. Caminhos cruzados na sua estrada. Cruzamentos sem prioridade, prioridades sem engrilhoamento, fugas de prisões reais na sua imaginação.
Às vezes ele costumava sonhar. Às vezes ele não era ele, ele era alguém que era mais do que só alguém, era ele fora de si, espectador de uma existência que sabia ser a sua.
Às vezes fazia de conta que não sonhava. Às vezes dobrava os seus sonhos em quatro e desistia de imaginar. Desistia de ser, desistia!!!

Essas vezes eram as piores, essas alturas eram vertiginosas, eram o escape da sua espiral de utilidade perdida em prol de uma qualquer soberania.
Temos que ser os reis de nós próprios, dizia engalanado e ufano, na sua auto-comiseração escamoteada em mil disfarces diferentes, todos eles inúteis e fúteis, todos eles verdadeiros.
Nós vestimos muitas roupas na vida, dizia, mas todas têm um toque, a todas nós sentimos, o que significa que nenhuma é parte de nós.

Nós somos aquilo que resta quando não sentimos nada.

Ele não sabia se gostava do que sobrava. O que sobrava era eu.


Melancholic Soul
written @ RossioCaffe

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