quarta-feira, novembro 26, 2008

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O medo que ele tentava engolir não ultrapassava o nó na sua garganta. As roupas negras não assustavam os seus temores, e nem na noite mais escura o escondiam dos seus fantasmas. Eram já muitas as beatas no chão...
Mas a coragem ainda não tinha chegado.
O silêncio da noite era rompido apenas por arritmadas onomatopeias da Natureza, os sons que ignoramos quando fazemos quase tudo, mas que estão lá. Estão sempre lá. E se metamorfosea em estrépitos assustadores quando esperamos em silêncio pelo desconhecido. Subitamente reflectiu e tomou a decisão que já julgava ter tomado antes. E dirigiu-se aquela casa.
Castelo inexpugnável das guerras medievais da sua imaginação. Eterno precipício da sua coragem, local tabu das suas gabarolices. Com aquela casa não se brinca! Era a prova que o medo é uma das mais fiáveis maneiras de obter o respeito. Mas respeito ganho por temor dá sempre lugar a revolução.
Ele era o rebelde revolucionário da rebelião que nascia da sua coragem mal direccionada para o fantástico mundo dos medos de criança, qual D. Quixote perdido entre moinhos, qual D'Artagnan e Rochefort. Por vezes quando a ilusão dá lugar à realidade traz com ela alguma tristeza.
Outras vezes não.
Ele avançou pela erva que cobria o que em tempos fora um jardim. Encostou-se à porta da frente, olhou em todas as direcções à procura de um olhar, ou se um motivo para desistir. Encostou a mão à maçaneta para abrir a porta.
Mas não seria assim tão fácil...

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